Rubem Alves
Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que
representam as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, com pingos de
limão, com arroz, sopas.
Sem defesas – são animais mansos –, seriam uma presa
fácil dos predadores. Para que isso não acontecesse, a sua sabedoria as ensinou
a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.
Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas
ostras.
Eram ostras felizes. Cantavam sua linda música aquática.
Com uma exceção: diferente da alegre música aquática, ela
cantava um canto muito triste. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado
dentro da sua carne e doía, doía, doía.
O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão
de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza, arestas e pontas, bastava
envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda.
Assim fazia
enquanto cantava seu canto triste.
Um dia, passou por
ali um pescador com o seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras,
inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para casa e
sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras.
Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes
bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e
sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola.
Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e
deu-a de presente para a sua esposa.
Essa verdade é também para os seres humanos.
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Rubem Azevedo Alves (1933-2014) foi um psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor presbiteriano brasileiro. Foi autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis.
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Pensar
Você já produziu alguma pérola?
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